4.28.2011

Antitheos ou a divina antagonista.

Pelo instinto, homens e animais descobriram água, fogo, pão e abrigo. Pelo instinto (?) o Homem descobriu os deuses, pela razão consegui assegurar a sua existência. Depois, novamente pela razão, negou qualquer existência divina. Ao contrário da água, do fogo, do pão e do abrigo, dos deuses, quer existam, ou não, recebemos silêncio e ausência. Antitheos? Liberdade? Quase que soamos a ridículos, ou não? De onde nasceu o teatro? Religião, palavra, ritual, transcendência. Queremos teatro, como grupo universitário, como um colectivo, como um coro grego moderno. Queremos? Não é a liberdade da Antígona, não é uma obsessão por rituais fúnebres a um cadáver rejeitado, somo nós, o grupo, evidenciado numa história que poderia ser outra qualquer, na diluição de cada subjectividade na subjectividade do outro. Se me perguntarem a verdadeira razão de fazer teatro amador, talvez responda que foi dos poucos sítios onde as mascaras costumam cair. O interessante é mergulhar em cada método de encenação, ensaio, direcção e assumir o risco de não ser livre, mas até parecer que sim. À parte de ateus, ou religiosos, digam-me se isto não tem algo de metafísico?

Cláudia Pinto (Actriz)
Em cena de 2ª a 6ª às 21.30h, de 16 de Maio a 3 de Junho.

Entrada gratuita com descontos vários!

Sinopse.

Pó. Caverna. Luzes. Visões. Escuridão. Mulheres. Presságios. Perspectivas. Masculinidade. Diferença. Tragédia. Decisões. Canto. Morte. Paixão. Identidade. Escolhas. Equilíbrio. Desequilíbrio. Fragilidade. Força. Pó.

Buscamos ansiosos uma qualquer essência do mundo, fragilizados sempre pela nossa própria condição. Regressamos à clareira grega, à claridade, para talvez encontrarmos o lugar onde somos o nosso próprio manifesto.
A Antígona é o nosso ponto de partida, a “heroína” da tragédia de Sófocles, a antagonista, a que está anti-guião, anti-caminho proposto, a que está informe, contra o conforme, a que se iguala aos deuses quando os questiona no destino da missão humana. A partir dela vamos chegando a nós próprios – a viagem primeira - ao conflito, ao acordo, à contradição. Passamos por polos que se atraem e afastam, à procura de qualquer coisa que vislumbramos mas onde custa chegar. Desafiamo-nos uns aos outros e a nós mesmos, em busca do insuperável, do inatingível, na inutilidade da luta, na corrida que não acaba.
No conhecimento de si – encontramos o ímpeto revolucionário – as fontes obscuras da identidade humana. A ausência de significação comum. As “leis não escritas”.
E na responsabilidade autónoma de seres do mundo talvez seja o equilíbrio aquilo que perseguimos, o concílio efémero que emerge irresolúvel no meio de cada combate:

Antigona VS Creonte
Liberdade VS Imposições
Ética VS Política
Utopia VS Realismo
Perspectiva individual VS Exigência Pública
Humanismo instintivo VS Legalismo coactivo

Nesta transição crepuscular, neste assumir-se fora do encerramento seguro de polos que se afastam, expomo-nos, questionamo-nos, morremos e renascemos, e a cada instante escolhemos onde estamos, onde queremos ficar, o que queremos ser. Onde queremos viver.

Adriana Aboim (Directora Artística)
Antitheos ou a divina antagonista